quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Lazarim


Terça-feira de Carnaval, Lazarim, Lamego: aqui não há samba nem vedetas. Os arifícios carnavalescos estão propositadamente ao nível de uma interioridade algo saudosista, e ao forasteiro apenas falta estar embrenhado q.b. no quotidiano da «terra», para poder disfrutar de tanto mal-dizer. As quadras do Testamento utrapassam a simples brejeirice, mas parece que ninguém fica sentido. Mais parece um lavar de roupa suja que traz paz social para mais um ano. Fica por saber, afinal, até que ponto esta gente leva tudo para a «brincadeira», no dizer e no... fazer!

Os caretos, serenos e atentos, lá estavam a dar um ar misterioso a este carnaval: não saltam nem dançam, transportam a arte de quem os esculpiu no amieiro e olham os forasteiros quase placidamente. Confesso que gostaria ver algum atrevimento, a condizer... Mas não, eles estão lá: surgem ao som do bombo, ouvem o Testamento, riem, batem o pé às sátiras e vão em procissão ao Enterro.


Há barraquinhas pelas ruas a oferecerem artesanato, compotas e bolos e uma tenda restaurante (onde gostaria de ter almoçado) e ao fim do dia, há os potes nas fogueiras pelas ruas para se petiscar, fazendo-se jus ao bem-receber beirão.

A Junta de Frequesia expõe na sua sede vários caretos e trajos carnavalescos, num espaço moderno. Não sei se é permanente, ou se será museu já, mas revela a importância dada a esta efemeridade e aos artesão locais.


Um carnaval cada vez mais famoso corre o risco de se massificar (agora já se diz «globalizar»). Faço votos para que estes carnavais, como o Lazarim, não evoluam. Nem façam muita publicidade... Tentem só trazer de volta as aldeias...


«Quero-vos pedir desculpa / Porque isto foi sempre assim;


Tradição como esta /Só existe em Lazarim.»